Racismo Ambiental, Gênero e Etnia

Naira Santa Rita Wayand

1/5/20234 min read

Os impactos da crise climática não são neutros e atingem determinados países e parcelas especificas da população.

O termo "racismo ambiental" foi cunhado em 1982 pelo norte-americano Benjamin Chavis, ativista do movimento dos direitos civis nos Estados Unidos.

Acredita-se que a frase foi usada pela primeira vez no ano de 1982, no momento em que Chavis gritou "Isto é racismo ambiental!" ao ser preso, durante protesto contra um aterro químico de Bifenilpoliclorado no estado da Carolina do Norte, nos Estados Unidos. Neste contexto, Bejamin Chavis cunhou o termo para se referir à:

''Discriminação racial no ataque deliberado às comunidades étnicas e minoritárias por meio de sua exposição à locais e instalações de resíduos tóxicos, insalubres e perigosos, juntamente com a exclusão sistemática de minorias na elaboração, cumprimento e reparação das políticas ambientais.''

Ou seja, o termo faz referência às formas desiguais pelas quais etnias historicamente negligenciadas são expostas a eventos ambientais nocivos.

No contexto internacional, o racismo ambiental também se refere às relações ecológicas desfavorecidas entre o norte e o sul global, como consequência do colonialismo, neoliberalismo e globalização.

A chegada de grandes empreendimentos desenvolvimentistas é um exemplo de neocolonialismo, sendo um processo que expulsa populações originárias de seus territórios, destrói suas culturas e degrada o ambiente.

Os processos de colonialismo e neocolonialismo promoveram a escravidão, a injustiça e o racismo ambiental, dando origem a ambientes insalubres, como as favelas brasileiras.

O racismo ambiental está atrelado à injustiça ambiental, sendo um mecanismo pelo qual os negligenciados socioeconomicamente são sobrecarregados dos danos ambientais do processo econômico; ao mesmo tempo em que usufruem menos dos produtos do capitalismo ou têm o seu direito ao usufruto dos recursos naturais subtraído.

Na prática, a comunidade negra, indígena, quilombola, caiçara, ribeirinha são diretamente e desproporcionalmente impactados pela expropriação de terras, pela poluição hídrica, atmosférica, pelos eventos climáticos extremos como secas, enchentes, inundações, deslizamentos de terras, pelas moradias em áreas de risco nas favelas, pelo despejo de resíduos, pelo não acesso aos serviços fundamentais de saneamento básico, impactados pelos rompimentos de barragens, doenças, contaminações, tudo isso é RACISMO AMBIENTAL.

Saneamento básico, moradia digna, direito á terra e território é direito fundamental e é violado para a maior parte da população, isso é racismo ambiental, e quando acontece algum fenômeno ambiental e climático é essa grande parcela da sociedade que é diretamente atingida.

E o que gênero tem a ver? Vamos aos dados:

A Organização das Nações Unidas (ONU) durante a COP26, apontou que as mulheres são as mais afetadas pela crise climática que também se configura como uma crise humanitária. Segundo a ONU, 80% das pessoas forçadas a cruzar fronteiras e deslocamentos internos devido a desastres e mudanças climáticas são mulheres e crianças.

Esse fato ocorre, principalmente, porque o processo de desenvolvimento das cidades carrega em si mesmo uma lógica desigual, expulsando as populações historicamente negligenciadas das zonas mais seguras forçando-as habitar áreas de risco. Evidenciando toda uma omissão histórica por parte dos Estados na construção de políticas públicas que priorizem o direito das mulheres e um caminho para a justiça ambiental e racial.

Países em desenvolvimento ou emergentes no processo econômico e social – são os mais impactados pela crise climática, desastres ambientais e conflitos civis e armados por recursos naturais – a garantia de água, comida e combustível para as famílias em grande parte é condicionada, estruturalmente, às mulheres, situação essa que pode ser mais complexa durante enchentes, inundações e secas, por exemplo. Uma vez que as mulheres precisam ir mais longe para coletar comida e água, ficam mais expostas a diferentes tipos de violência, incluindo abuso e violência sexual.

Conforme apontam os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dos lares chefiados por apenas uma pessoa no país, sem cônjuge, e com filho(s) de até 14 anos, 54% encontram-se abaixo da linha da pobreza. Dessas famílias, 63% são chefiadas por mulheres pretas ou pardas e que habitam periferias das cidades.

Para se ter uma ideia, das pessoas entrevistadas para o desenvolvimento da linha de base do projeto Resposta Emergencial Bahia e Minas Gerais, da rede Cáritas, 78,69% eram mulheres. O dado aponta que esse grupo foi o mais atingido pelos efeitos das fortes chuvas do final de 2021 e início de 2022 nesses estados.

São os grupos que menos contribuem com as mudanças climáticas e são os que são mais afetados e isso aprofunda ainda mais a violação de direitos humanos no brasil e no mundo.

Mudanças climáticas é um assunto interseccional, o que isso significa? Significa que não tem como falar de mudanças climáticas sem falar de direitos humanos, racismo ambiental, justiça climática e racial.

Negligenciar a crise climática, ignorar o racismo ambiental agrava violação dos direitos humanos no Brasil e no mundo e estabelece ainda mais injustiças sociais.

A crise do clima é uma crise de direitos humanos de proporções sem precedentes, e mostra como as consequências das mudanças climáticas são sentidas de forma desproporcional por grupos sociais que já sofrem com a violação de direitos fundamentais, e as pessoas mais afetadas têm sempre o mesmo gênero e cor.

Trazendo a luz debates essenciais visando a elaboração de estratégias mais robustas de mitigação e adaptação às mudanças climáticas, incorporando com extrema necessidade, a dimensão de raça e gênero nos diferentes graus de impactos dos eventos climáticos e desastres naturais.

Nesta perspectiva, cito a Cáritas Brasileira, que tem atuado junto a comunidades tradicionais, quilombolas, povos indígenas, ribeirinhas, fundo e fecho de pasto, assentamentos e populações urbanas – principalmente periféricas, para a promoção do Bem Viver a partir dos princípios antirracistas e de equidade de gênero, fortalecendo a convivência com os biomas, a economia popular solidária e a produção agroecológica, pautada na preservação da sociobiodiversidade e na diversidade cultural dos nossos povos.